sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

“Jeitinho”

Hábito cultural já retratado pelo renomado antrópologo brasileiro Roberto da Matta, em um de seus estudos, onde além de outras considerações, explora o uso da famosa expressão “você sabe com quem está falando?”, como um retrato de nossa cultura.
[...]
Na cidade onde moro, existe uma regra para o atendimento público em postos de saúde, em que determinado posto atende a demanda de determinada região da cidade, o que é uma informação a qual todos que utilizam o tal serviço tem acesso.
A partir disso, uma situação, me deixou revoltada, estava numa unidade de saúde pública em minha cidade, e um casal se exaltou, se revoltou pois a funcionária não queria marcar consulta para eles, por não terem informado a mudança de bairro, como a funcionária mesmo ressaltou que não havia como o pessoal do posto adivinharem a mudança. Pressão daqui, pressão dali, voz exaltada, expressão carrancuda, linguagem corporal agressiva, até que a funcionária acabou por ceder, e deu um “jeitinho” (já que sua senha não permitia tal ação), mesmo que tal comportamento na minha compreensão se caracterize como desacato ao funcionário público.

Bem, quero ressaltar aqui que minha revolta não se deve ao fato da funcionária ter deixado ou não de marcar a consulta, mas sim pela maneira como as pessoas lidam com suas necessidades e as alheias, pois se o “jeitinho” é para uma necessidade própria, não importa o que seja feito. No entanto, ao ver ações erradas de outrem, uma parte das pessoas discriminam, julgam, demonstram ter uma moralidade hipócrita. Exemplo clássico da pessoa que reclama dos políticos corruptos, e leva o troco errado pra casa, suborna aqui ou ali, e outras ações do gênero.
Há muito tempo conservo a seguinte opinião: um ladrão não começa assaltando um banco, mas sim roubando alguns centavos dos pais, a borracha do “coleguinha”, ou seja, somos construídos pelas ações pequenas, elas pouco a pouco vão moldando o nosso caráter e resultam no ser que somos hoje.

Espero o dia em que cada um terá consciência de que o que é justo para mim, é justo para todos (por uma mais evoluída consciência coletivo, por novos zeitgest) e que seja como a própria denominação conota, algo implícito ao ser, que seja natural, feito de forma inconsciente sem precisar que o outro levante a questão em uma simples conversa de bar, shopping, escola como tantas que vimos por aí, em discussões que não chegam perto de serem construtivas, por não levarem a ação, mas apenas à discussão, a “fofoquinha” à la Brasil. Que logo será substituída por uma nova conversa, com um novo enfoque, a partir de uma notícia de maior impacto e/ou caráter mais atual.


Nota:

O cunho do meu blog está mais para o emotivo, que para o ideológico, o político, mas hoje algo me deixou muito revoltosa, mexendo com meus pensamentos, consequentemente com meus sentimentos, a ponto de me levar a escrever, não em forma de poesia, poema, pela primeira vez, mas como sempre, expressando o que sinto.

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