quarta-feira, 15 de março de 2017

Sem voz!

àS vezeS eu meSma calo a minha bocA,
Pensando que o que poderia escrever vai incomodar os outros.
E assim com a pá, cheia de terra tapo o buraco,
Mas logo abre novamente,
E com a boca enlatada, e os dedos imóveis,
omito alguns pensamentos meus,
omito algumas palavras suas perdidas cabeça,
omito o que por aí, alguém mais pode estar pensando similarmente.

E como um tapa na cara, deixo o vento do momento levar o que quero trazer ao papel.
e de maneira cruel, escondo partes assim de mim mesma,
para depois não entender que há pedaços em falta.

E a falta faz, assim como o ser sem ar para respirar,
Oprimir, apagar, calar, esconder, desmembrar partes do que fechei os olhos para deixar de ver.

Qual a falta que eu mesma esqueci?
Qual o momento em que não vi, que sou feita de tantas partes conflitantes, e por isso claramente humanas,

Que parte ou que falta escondes de si, assim como eu o já fiz?




Grito em forma de gozo

Sabe o gozo do homem?
O esperma que traz calma e energiza-o todo?
Sabe a escrita que fica comprimida em meu peito,
com palavras verdadeiras e que revelam mais de mim,
do que eu possa esconder?
Elas são libertárias e de forma sorrateira arrebentam com partes que existiam aqui.
Mas como num gozar masculino, ao qual apenas imagino a sensação,
As palavras presas na garganta relaxam os micro músculos que tensos estavam pelo que ficou preso dentro de mim,
E assim diminui um pouco a dor que carrego neste ponto do meu corpo.


Relógio sem horas


Às vezes a gente acha que a queda faz sumir o chão.
Por outras nós mesmos tiramos pedaços de um possível caminho,
E de escamas em escamas, como ao prepararmos um peixe.
Tiramos partes de nós e jogamos ao lixo,
Mas o pó que se torna não é possível reaproveitar.
E às vezes o pó é inalado em nossas narinas, 
sufocando o resto do ar puro que ainda há na sala,
E destruímos parte a parte, 
 um nós.
Para em seu lugar montar um novo ser,

Mas há momentos em que não encontramos 
caixa de ferramentas alguma, para pegar a chave que conserta 
nossas incógnitas,
E assim como com o trem perdido,
Ficamos na estação com olhar vazio,
E apenas vendo o movimento,
Ou perdendo a energia que não pulsa, 
e que fica como um relógio parado no tempo,
Sem sentido,
Ou sem momento para ser ele mesmo.