segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Olhos verdes & distantes (Conto II)

- Batata palha, queijo, bacon, molho e muita cebola. E sentou e falou- Não acha isso tudo tão vazio? Whisky, mulheres, camarote, amanhã te ligo e… fingem nem se conhecer quando se veem por aí.
- A moça quer flores? Filosofia? Num sarau...
- Para! Entende onde quero chegar. Vestido curto, ainda mais curto, roupa mais transparente que cristal. Beija uma, e daqui a pouco acha que beijou a irmã! O que muda? O tom de voz, com sorte! O mesmo papo, joguinhos e até o cabelo, parece peruca da mesma loja.
- E ela?
- Ah! Ela foi inesquecível, pura sorte...
Com um aceno de cabeça direcionou seu olhar à Ela.
- Oi, meninos, quanto tempo!
- Nossa, sempre sensacional! Um dia ainda descubro o teu segredo, copio a receita e registro patente.
- Perde o juízo, mas não a graça, né, Artur?
- Às vezes a gente perde e percebe apenas quando não há volta ou maneira de continuar a caminhar, lado a lado.
- Pois é!  Olhar para trás também não resolve, arcar com as escolhas não significa apenas saber que erramos, mas sim que teremos arrependimentos irreparáveis que servem para não continuarmos com o mesmo padrão- pausa – Não nos falamos mais, achei que havia seguido em frente.
- Mas estou!
- Está mesmo? Pensar eternamente sobre o que houve, pensando como poderia ter sido, não faz sentido! Pode estar desperdiçando chances.
- Você é única e inesquecível.
- Sou única, assim como cada ser complexo que existe. Inesquecível, talvez a nossa história, mas não este mito que criou de mim. Você foi muito importante para mim, mas sai despedaçada e com aprendi o que não devo aceitar e levantei. Não se martirize com folhas de papéis que molharam e se desintegraram na chuva, os pedaços que sobraram não são dignos de tempo. Uma coisa é ter um referencial, não me procure em outras faces, pois não vai encontrar! Respire e sinta o ar gelado penetrar em tuas entranhas, junto às lágrimas que escorrem pelo teu rosto, mas também, seque-as! Sinta o sol queimar na tua pele e sorria! Se entregue!
Ele chegou, enlaçou-a pela cintura e beijou levemente seu pescoço – Oi, anjo!
A felicidade parecia exalar de cada poro de sua pele, inclusive nas marquinhas perto dos olhos, ardentes e verdes. O sentimento de frustração não foi mascarado no semblante dele, por isso Bruno, o chamou- Ei, o dog!
- É mesmo... servidos?
- Não, obrigada, queria apenas água. Esqueci de apresentá-los, Artur e Bruno, este é Felipe, meu esposo. Desculpa a pressa. Vamos?
- Claro!
- Cara feia é fome. Acabou sabe que não tem do que reclamar, quem pisou...
- Eu sei! Acho melhor engolir isso e irmos.
- Calma!
- Foi mal! Ela continua... enfim, o passado deve ficar em seu lugar! Acho que precisava revê-la para seguir em frente, me reconstruir. E quem sabe encontrar um caminho que pode ser… ficar sozinho. Tenho que parar de buscar no outro o que me falta, este é o primeiro passo. Sete anos foi o suficiente!
Não foi uma decisão passageira como a poeira que dispersa no vento, mas tão sólida quanto o chão no qual pisava.

28- JUL -16

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